01 agosto, 2007

AMOR NA LATINHA DE LEITE

Um fato real. Dois irmaozinhos maltrapilhos, provenientes da favela, um deles de cinco anos e o outro de dez, iam pedindo um pouco de comida pelas casas da rua que beira o morro. Estavam famintos:
- Vá trabalhar e nao amole -- ouvia-se detrás da porta.
- Aqui nao há nada moleque -- dizia outro...
As múltiplas tentativas frustradas entristeciam as crianças...
Por fim, uma senhora muito atenta disse-lhes:
- Vou ver se tenho alguma coisa para vocês... Coitadinhos!
Ela voltou com uma latinha de leite. Que festa! Ambos se sentaram na calçada. O menorzinho disse para o de dez anos:
- Você é mais velho, tome primeiro...
E olhava para ele, com a boca semi-aberta, mexendo a ponta da língua.
Eu, como um tolo, contemplava a cena... Se vocês vissem o mais velho olhando de lado para o pequenino! Leva a lata à boca e, fingindo beber, aperta fortemente os lábios para que por eles nao penetre uma só gota de leite.
Depois, estendendo a lata, diz ao irmao:
- Agora é sua vez. Só um pouco.
E o irmaozinho, dando um grande gole exclama:
- Como está gostoso!
- Agora eu -- diz o mais velho. E levando a latinha, já meio vazia, à boca, nao bebe nada.
"Agora você", "agora eu", "Agora você", "Agora eu", diziam eles.
E, depois de três, quatro, cinco ou seis goles, o menorzinho, de cabelo encaracolado, barrigudinho, com a camisa de fora, esgota o leite todo... Ele sozinho.
Esse "agora você", "agora eu" encheram-me os olhos de lágrimas...
E entao, aconteceu algo que me pareceu extraordinário. O mais velho começou a cantar, a sambar, a jogar futebol com a lata de leite. Estava radiante, o estômago vazio, mas o coraçao trasbordante de alegria. Pulava com a naturalidade de quem nao fez nada de extraordinário, ou melhor, com a naturalidade de quem está habituado a fazer coisas extraordinárias sem dar-lhes maior importância.
Daquele moleque nós podemos aprender uma grande liçao: "Quem dá é mais feliz do que quem recebe." É assim que nós temos de amar. Sacrificando-nos com tal naturalidade, com tal elegância, com tal discriçao, que os outros nem sequer possam agradecer-nos o serviço que nós lhe prestamos.
Agora você..........

Nenhum comentário: