(Por Patricia Gebrim)
Pare o mundo que eu quero descer!Ontem mesmo eu era uma menina. Eu brincava, estudava, fazia minhas lições. É claro que também tinha algumas obrigações, mas as minhas maiores preocupações, uma vez que tenho esse lado chato e perfeccionista, relacionavam-se com entregar em dia a lição de casa, em não esquecer nada, em ser a menina estudiosa e aplicada que parecia agradar tanto àqueles que eu amava. Eu também me preocupava com o mundo, tinha medo das guerras, sofria pela ameaça de extinção dos animais - mas era só de vez em quando, entre uma brincadeira e e outra, ou quando me cansava de correr com meus cachorros.
O que aconteceu comigo? O que aconteceu com você?Parece que, num piscar de olhos, o mundo mudou ao meu redor. Tudo aconteceu tão rápido. Eu hoje olho no espelho e vejo essa adulta. Chego mais perto... o que são essas linhas ao lado de meus olhos??? Ruuuuugaaaassssss????? Olho com curiosidade, indagando internamente o que acho dessa mulher. Num primeiro olhar até que parece ser uma pessoa bacana. Atende pessoas em seu consultório, sempre estudiosa (hoje não mais para agradar aos outros), escreve um pouco aqui e ali, ganha seu próprio dinheiro, dirige um carro, faz todas aquelas coisas que pareciam tão complicadas para a menina que fui um dia. UAU!!! Parte de mim se sente orgulhosa de tantas conquistas. Mas ao mesmo tempo tem essa partezinha que se encolhe, triste, em um cantinho meio escondido de meu coração.Vou me aproximando devagar, quero ver quem está lá, apertando meu coração dessa forma. E é então que vejo a menina, a menina que fui um dia, com aquele coque que minha mãe insistia em fazer na minha cabeça. Minha mãe enfiava todo o meu cabelo (que é enorme, acreditem) numa armação de metal dourado para fazer o tal coque. Como doía!!!! Eu reclamava e ela sempre dizia: - Você quer ficar bonita? Tem que sofrer!Será? Olhando para a menina escondida atrás de meu coração, fiquei pensando em quais são os sofrimentos que valem a pena. Será que não sofremos mais do que seria necessário?
Sem perceber, complicamos demais a vida. Hoje em dia temos acesso a tantas coisas que antes não existiam... i-pods, computadores, lap tops, todo tipo maluco de eletrodomésticos, tantas marcas de carros que eu não sei nem a metade dos nomes... Temos também recursos antes inimagináveis para todo tipo de coisa. Uma mulher hoje tem um verdadeiro arsenal à sua disposição. Para ficar bonita ela faz as unhas, depilação, banho de lua (para quem não sabe é tingir os pelos do corpo de loiro), esfoliação, hidratação, permanente nos cílios, drenagem linfática, limpeza de pele, tintura nos cabelos, luzes, escova progressiva, depilação definitiva, aplicação de laser, botox, preenchimento, e eu poderia continuar esta lista por mais uma dez linhas se quisesse. UFA!
Será bom isso tudo? Depende. Se o preço for um aperto no coração porque tem uma criança triste escondida por lá, não pode ser bom. Se não sobrar espaço para ser feliz não pode ser bom! Qual é a medida, e será que somos capazes de estabelecer uma medida? Porque, a meu ver, aí pode estar a saída para um maior equilíbrio. Penso que estamos desequilibrados, acabamos perdendo o nosso eixo entre tantas possibilidades, como a criança que se empanturra tanto que acaba passando mal e perdendo o melhor da festa. C
orremos o risco de perder o melhor da festa, o melhor da vida, empanturrados que estamos desse mundo maluco que não para de girar ao nosso redor.
Eu já desisti de acreditar que é só uma fase. Eu costumo fazer listas sabe? São tantas as coisas que tenho que fazer que as escrevo e vou eliminando uma a uma.
Antes eu sempre ficava esperando a hora de riscar a última tarefa para finalmente poder aproveitar mais o dia e a vida. PURA ILUSÃO! A tal listinha não vai acabar nunca! Ouça... a listinha não acaba, só aumenta! Então eu e você precisamos aprender a fazer escolhas... será que precisamos mesmo fazer TODAS essas coisas? E mais, precisamos aprender a ser felizes mesmo com a tal listinha nas mãos, porque a lista faz parte da vida. Não dá para esperar a lista ficar zerada para ter a tal da felicidade.
Esta é a minha proposta para o ano que está começando. Rever minha lista, reduzi-la ao que eu considerar fundamental, e fazer as pazes com ela. O mundo não vai parar de girar, eu sei, mas eu posso encontrar o meu próprio movimento nessa dança que ocorre ao meu redor. E você, como vai lidar com isso?