07 abril, 2008

Quase...



Ainda pior que a convicção do nada

É a incerteza do talvez,
É a desilusão de um quase...
É o QUASE que me incomoda,
Que me entristece,
Que me mata, trazendo tudo
Que poderia ter sido, e não foi.
Quem QUASE ganhou, ainda joga.
Quem QUASE passou, ainda estuda.
Quem QUASE amou, não amou.
Basta pensar nas oportunidades
Que escaparam pelos dedos,
Nas chances que se perderam por medo,
Nas idéias que nunca saíram do papel
Por esta maldita mania de viver no outono.
Pergunto-me, às vezes,
O que nos leva a escolher uma vida morna.
A resposta eu sei de cor,
Está estampada na distância,
E na fraqueza dos sorrisos,
Na frouxidão dos abraços,
Na indiferença dos 'bom-dia'
Quase que sussurrados.
Sobra covardia e falta coragem
Até para ser feliz.
A paixão queima,
O amor enlouquece,
O desejo trai.
Talvez estes fossem bons motivos
Para decidir entre a alegria e a dor,
Mas não são.
Se a virtude estivesse mesmo no meio-termo, O mar não teria ondas, Os
dias seriam nublados, E o arco-íris em tons de cinza.
O nada não ilumina,
Não inspira,
Não aflige nem acalma,
Apenas amplia o vazio
Que cada um traz dentro de si.
Preferir a derrota prévia
À dúvida da vitória,
É desperdiçar a oportunidade de merecer.
Para os erros, há perdão.
Para os fracassos, chance,
Para os amores impossíveis, tempo.
De nada adianta criar um coração vazio
Ou economizar alma.
Um romance, cujo fim é instantâneo ou indolor,

Não é romance.
Não deixe que a saudade sufoque,
Que a rotina incomode,
Que o medo impeça de tentar.
Desconfie do destino
E acredite em você.
Gaste mais horas realizando, que sonhando,

Fazendo, que planejando,
Vivendo, que esperando.
Porque,
Embora quem QUASE morre esteja vivo,
Quem QUASE vive, já morreu.

LUIS FERNANDO VERISSIMO